“... o mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até no rabo da palavra.”
Guimarães Rosa
A Psicanálise surge demarcando a disjunção entre saber e verdade, exigindo que o sujeito se (re)situe diante do desejo e do saber. Sustentando-se no método da livre associação, ela desenvolve uma experiência de cura realizada do início ao fim pela palavra, na condição de instrumental que possibilita ao desejo ser reconhecido. A invenção freudiana retira seus fundamentos da descoberta do inconsciente, da indestrutibilidade do desejo cuja coalescência com a sexualidade se extrai do objeto perdido, não por acidente, mas por estrutura.
Freud aponta que a psicanálise se apóia numa outra ética, a do mal estar na civilização. Há na estrutura do desejo algo mais do que um valor de uso e uma distribuição de gozo como pretenderia um poder que se diga justo. A política da psicanálise é sustentada por um imperativo ético que tem na sua causa, a coisa (das Ding).
Com Lacan, sabe-se que o que se encontra em jogo é o objeto a como causa do desejo. É a isso que se vem articular o desejo do analista, operador que conferirá à palavra o valor de interpretação. O paradoxo da interpretação, portanto é que, por ser escutada desde o Outro, ela se afirma na transferência, na estrutura do Sujeito-suposto-saber, mas questionando-o abre a via do desejo enigmático. O enigma é por definição uma enunciação. Seu breve enunciado faz aparecer a fenda de uma enunciação que interroga: Que quer o Outro? Com o retorno da questão para o sujeito: Que sou eu para esse Outro?
Esse Outro, escrito com letra maiúscula é o lugar do tesouro dos significantes, entendendo-se esse tesouro como lugar em que se reúnem os elementos de valor. O que é interpretar? Interpretar é um ato por meio do qual há reconhecimento do desejo, sempre enigmático, pois articulado pelo significante. Um sentido novo, que, ao desalojar o sujeito de uma alienação, o lança no movimento de outras significações.
A operação do analista é possibilitar a emergência do desejo na re-petição da demanda, ou seja, fazer fulgurar um desejo que se apresenta como inarticulado a toda demanda ex-sistente aos seus ditos, dos quais o sujeito é efeito.
A transmissão, a pesquisa e o ensino em psicanálise são propostas que fazem os pilares de trabalho do Fórum do Campo Lacaniano de Fortaleza que, neste ano de 2011, completa 12 anos de existência. Acreditamos na responsabilidade de transmitir, sempre que possível, a ética implicada na formação do analista, tendo em vista, sua extrema importância na prática clínica dos praticantes da psicanálise.
Entusiasmados pelo sucesso do Encontro Nacional da EPFCL- Brasil, ocorrido ano passado, no qual tivemos como convidada internacional a psicanalista francesa, Collete Soler, aluna e analisante de J.Lacan, prosseguimos ao longo deste ano com nosso Seminário de Formação, cujo tema “O Desejo e sua Interpretação” está em consonância com o Encontro Nacional da EPFCL- Brasil, em Salvador de 04 à 06 de Novembro, “A Lógica da Interpretação”.
Esta jornada é o momento de reunir e divulgar os trabalhos desenvolvidos ao longo do ano tanto pelos membros do fórum, como por àqueles que frequentaram nossas atividades e também para outros interessados que queiram submeter suas propostas.
Programa
25/10 - Sexta-feira
18:30 h - Credenciamento
19:00 h – Abertura : Lia Silveira (Coordenadora do FCL- Fortaleza)
Sandra Mara Nunes Dourado (Coordenadora do Jornada)
19:30 h – Conferência : O Desejo e sua Interpretação – Luís Andrade (Psicanalista, Professor Titular (aposentado) da UFPB, membro da Escola Freudiana de João Pessoa e
membro da Escola de Psicanálise dos Fóruns do Campo Lacaniano).
21 h – Coquetel
26/10 – Sábado
8 h – Credenciamento
8:30 – Mesa de trabalhos
9:40 – Intervalo (cofee break)
10 h – Seminário de Cartéis
Coordenadora: Andréa Rodrigues
Debatedor: Luís Andrade
12:30 h - Intervalo para almoço
14 h – Mesa de trabalhos
15:40 h – Intervalo
16 h – Mesa de trabalhos
17:45 h – Encerramento
Coordenadora: Sandra Mara Nunes Dourado
Comissão Científica: Osvaldo Martins
Luís Achilles R. Furtado
Fabiano Rabelo
Comissão Organizadora: Andrea Rodrigues
Elynes Barros
Lia Silveira
Comissão de Apoio: Graça Soares
Ivna Borges
Nálplia Xavier
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