segunda-feira, 7 de março de 2016

Psicanálise em cordel

Psicanálise em Cordel
Autor: Pedro Paulo Paulino




Para provar que o Cordel
Com tudo se comunica
E, como literatura,
Atrás das outras não fica,
Eu peço condescendência
Para falar na ciência
Que somente Freud explica.

Pois foi Sigmund Freud,
O gênio neurologista,
Quem sondou a alma humana
Sob outro ponto de vista,
Tornando-se pioneiro
Com fama no mundo inteiro
Como psicanalista.

Estudando o psiquismo
Com funda investigação,
Freud adota novo método
Que inclui a aplicação
Na pessoa analisada
De uma técnica chamada
De Livre Associação

A cura pela conversa
Entre médico e paciente,
Eis a metodologia
Que de modo eficiente
Oferece grande pista
Para o psicanalista
Acessar o inconsciente.

Convém aqui destacar
A famosa parceria
De Freud e Joseph Breuer,
Cuja nova teoria
Seria então publicada
Numa obra intitulada
“Estudos Sobre a Histeria”.


O famoso caso Bertha
Que nalguma ocasião
Era incapaz de falar
Sua língua, o alemão,
Deu início à jornada
Da que se tornou chamada
“Cura de conversação”.

A partir já dos estudos
De Charcot, Freud analisa
Os pacientes tratados
E desde logo divisa
Que a causa é psicológica,
Não orgânica – eis a lógica
Central da sua pesquisa.

Seu trabalho original
Trouxe um novo entendimento
Ao conflito que há entre
O desejo e o sentimento,
E cuja contradição
Torna imperfeita a razão,
Sendo causa de tormento.

Em famosas conferências,
Freud expôs suas razões,
Que foram depois impressas
E ganharam edições
Amplamente traduzidas.
São bastante conhecidas
As suas Cinco Lições.

A primeira delas trata
Do caso aqui já citado
Da paciente de Breuer
E seu drama complicado,
Com crises de histeria
E acessos de afasia,
Vivendo presa ao passado.


Com tratamento catártico
De sondar o inconsciente
E descobrir da moléstia
A causa subjacente
(Usando ainda hipnose),
Foi combatida a neurose
E curada a paciente.

Esse caso tão famoso,
Além doutras evidências,
Serviram de base a Freud
Nas demais experiências.
Pela sua teoria,
Quem padece de histeria,
Sofre de reminiscências.

Vamos agora abordar
Sua segunda lição
Que trata da resistência
De trazer recordação
Ao estado consciente,
Que ele chamou prontamente
Processo de “repressão”.

Um desejo violento
Sempre em contrariedade
Às aspirações morais
De uma personalidade:
Entre o ego do doente
E a ideia, está presente
A incompatibilidade.

Esse conflito psíquico
Precisa ser resolvido.
Pelo método de Freud,
O paciente assistido,
Mesmo em estado normal
Traria à tona, afinal,
Um pensamento esquecido.

Conflito que sempre traz
Ao paciente a tortura
E, quanto mais prolongado,
Mais o desprazer perdura,
Cabe ao psicanalista
A gloriosa conquista
De enfim alcançar a cura.

Já na terceira lição,
O tema é desenvolvido
Considerando de um lado
O esforço refletido,
E do outro, a resistência
Pra trazer à consciência
O complexo reprimido.

Em outras palavras, tudo
O que o cientista quer
Dizer é que: para a busca
Do desejado é mister
Que o médico, simplesmente,
Permita que o paciente
Diga tudo o que quiser.

Outro tema ainda exposto
Nessa terceira lição
São os sonhos, para os quais
Freud tem explicação,
Como se vê adiante,
Tal como é muito importante
A sua interpretação.

O sonhos são os desejos
Que ficaram na memória.
Essa frase já resume,
De forma satisfatória,
O processo de sonhar,
Sem ser preciso apelar
Para arte divinatória.

Pela análise do sonhos
E profunda observância
Das impressões e dos fatos
Acontecidos na infância,
Prevê-se a sua influência
Em toda a nossa existência,
Daí a sua importância.

Freud, na quarta lição,
Fala em sexualidade
Que, segundo a sua tese,
Já começa em tenra idade;
Além dos vários complexos
Relacionados aos sexos,
Em qualquer sociedade.

Segundo ele, na infância,
Existem vários sinais
De instintos e atividades
Claras e sexuais
Que vão se tornar ativas,
Por fases evolutivas,
Nos indivíduos normais.

O sexo, em seu entender,
Age de forma segura
Na formação do caráter,
Em toda e qualquer cultura,
Mas, segundo o seu estudo,
Pode ser o conteúdo
De uma neurose futura.

Abordando o mesmo tema,
Mas já na quinta lição,
Freud analisa os sintomas
Ligados à regressão
Para a fase inicial
Da vida sexual,
Quando existe repressão.

Certas moléstias nervosas
Têm sua etiologia
Em traumas sexuais
Que se vão mostrar um dia
Como fuga à realidade,
Dominando na vontade
Do doente a fantasia.

Em suma, Freud constata
Que, devido à repressão,
O indivíduo perde fontes
De energia que lhe são
De incontestável valor,
Elemento propulsor
Para sua formação.

Mas com a psicanálise
E meios de tratamento,
São anulados desejos
Que só provocam tormento.
Conduzida, a ação mental
Produz em si, afinal,
O próprio medicamento.

Viva o psicanalista,
O detetive da mente,
Com seu trabalho importante,
Fundamentado e decente,
Profissional da ciência
Que provoca a consciência
Para ouvir o inconsciente.

Este cordel talvez seja
O primeiro freudiano,
Investigando os mistérios
Profundos do ser humano.
É, porém, de tudo antes
Um apreço aos integrantes
Do Campo Lacaniano.

Pedro Paulo Paulino
Campos, Canindé, 13/01/16

Pedro Paulo Paulino é um poeta, cordelista, Jornalista prático e profissional em artes gráficas. Nasceu em 1967 em Vila Campos, zona rural do município de Canindé - Ceará. A qualidade de seu trabalho artístico valeu-lhe a alcunha de "Príncipe dos Poetas Canideenses". Com vários folhetos publicados e participação em diversos livros e outras publicações, como jornais, revistas e internet, Pedro mantém ainda o blog VILA CAMPOS ONLINE de Informação e Cultura Regional.  Maiores informações e outros trabalhos do autor estão disponíveis em  http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=95366

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