Passemos então , a discorrer brevemente sobre os caminhos trilhados pela teoria do sintoma , em Lacan. No inicio de seu ensino , o sintoma era metáfora , enigma , que uma vez desvendado, tinha efeito de verdade . Em "Função e campo da fala e da linguagem" , embora ele diga, literalmente , que , "está perfeitamente claro que o sintoma , por ser pleno de sentido , e se resolve por inteiro numa análise", já faz notar a coexistência, no sintoma , do simbólico e do real : "o sintoma é símbolo inscrito na areia da carne e no véu de Maia". O sintoma enquanto símbolo "inscrito" pertence ao campo do simbólico, mas "escrito" sob o véu de Maia , não estaria também no campo do real ? A titulo de esclarecimento, a expressão "Véu de Maia" , é usada pelos orientais para dizer que “ver algo sob o véu de Maia faz também existir o que não existe", tamponando assim, a incompletude tão angustiante para o sujeito . Sem ele , sem o véu de Maia , constata-se rapidamente o “nada ”. Em RSI Lacan confirma isso ao afirmar que já estava na idéia do “Discurso de Roma” que o inconsciente ex-siste, que ele condiciona o Real .
A partir do inicio da década de 1970 Lacan se afasta do pensamento estruturalista, onde o simbólico detinha primazia nas estruturas clinicas, para trabalhar com a perspectiva de uma equivalência entre os três registros , e a estrutura do sujeito passa a ser determinada , pela forma de enlaçamento do simbólico, do imaginário e do real : RSI, SIR, IRS .
"O Real , eu inventei", diz Lacan. "E eu o escrevo sob a forma do nó borromeano, que não é um nó, mas uma cadeia. "Quando ele distingue "cadeia" de "nó" , ele quer dizer que a estrutura do sujeito é um encadeamento dos três registros , retirando a prevalência de um sobre o outro . A qualidade de ser uma verdadeira cadeia borromeana é o fato de RSI serem enodados, pelo Nome-do-Pai. Para manter a consistência do Nome-do-Pai nessa nova forma de escrever a estrutura do sujeito ele cria um quarto elemento na escrita do nó para ali situá-lo, e dá-lhe o nome de Sinthoma (th).
Ao introduzir a teoria dos nós na segunda parte do seu ensino , o "discurso" cede lugar à escrita . Enquanto no primeiro se privilegiava a produção de sentido , na escrita o que prevalece é o sem-sentido. Isso traz mudanças cruciais no manejo da transferência, pois Lacan alerta que “o efeito de sentido a se exigir do discurso analítico não é imaginário , não é também simbólico; é preciso que seja real ”. A assertiva anterior de que o simbólico faz furo no real , sofre uma torsão e agora , é o real que faz furo no simbólico. Há um gozo no significante irredutível à significação. Na clinica, não se trata mais apenas de escuta , mas do que se "lê no que se escuta" .
A teoria dos nós constitui a ultima elaboração de Lacan sobre o sintoma , chegando à escrita do inconsciente por meio da cadeia borromeana. Nela o sinthome surge como o quarto elemento , que ao enlaçar os três registros - agora equivalentes entre si – produz uma cadeia bo, e como nos lembra Lacan, “se há equivalência , não há relação ”. À falta de relação sexual , o sujeito responde com o sinthome: Cito: “ Sinthoma é a resposta que o sujeito encontra frente ao gozo da falta de relação sexual ”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário